segunda-feira, 15 de junho de 2009

Perfil

Até parece poema

O menino de Santo Antônio do Grama que criava amigos imaginários quando criança se transforma em um dos mestres em literatura mais cobiçados pelos colégios e Pré - vestibulares de Belo Horizonte e ainda desponta como escritor.



“Muito trabalho e muita poesia”, são as expectativas de Adriano para o futuro. Aquariano de uma personalidade tranqüila, o escritor ganhador do Prêmio Monteiro Lobato de contos infantis promovido pelo Sesc de Brasília nos anos de 2007 e 2008, lançou no mês de maio a sua quarta obra. “Fluído Flerte”. Esse é um livro de poesia que procura “flertar”, de modo descontraído, breve e fluido com as cenas do cotidiano e as experiências metafísicas.
Adriano é professor, em colégios e cursos pré-vestibulares conhecidos como o Elite, Bernoulli, Soma e o Mais e aos seus trinta e quatro anos de idade declara “Quero me dedicar à produção artística, não mais a teoria”. Inicialmente o escritor não acreditava que teria condição para escrever um livro, embora tivesse muita vontade. Resolveu se dedicar aos ensaios, pois era onde ele se sentia mais bem sucedido, e com um trabalho consistente. A partir daí veio a preparação para sua primeira obra “Toda bagagem teórica foi uma assimilação importante para que eu depois conseguisse algo literário”, declara o escritor.
Em seu primeiro livro Asa da Palavra, obra infanto-juvenil que reflete a questão do aprendizado lingüístico e afetivo de uma criança no interior de Minas, o autor faz um alto retrato de sua infância, escreve sem perceber um livro para si próprio “Esse livro foi feito sem eu ter a intenção de o fazer, ele se fez, se escreveu pra mim. A primeira parte da obra eu anotei no ônibus. O primeiro instante foi como se eu estivesse ouvindo aquelas palavras, foi assim que me descobri pelo primeiro momento escritor”.


A Trajetória

Adriano Bitarães Netto é graduado em letras pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em Teoria da Literatura pela mesma instituição. Nascido em Santo Antônio do Grama em Minas Gerais, ele se define quando criança como “Muito tímido, calado e humilde, que vivia muito mais em um plano imaginário”. Teve uma infância marcada pela natureza sendo que, durante essa sua fase o escritor relembra um fato em uma de suas obras de literatura infantil. “Um dia me senti arrastado pelo vento, o que de certo modo era a profecia da ameaça que a minha mãe sempre fazia: come menino senão um dia você vai ser levado pelo vento. Certa vez em
um temporal em minha cidade, eu devia ter por volta de quatro ou cinco anos, eu literalmente me senti arrastado pelo vento. Desde este dia, toda vez que armava uma tempestade, eu pegava pedras no chão pra ficar mais pesado”, conta ele.
Quando garoto, Adriano sempre foi elogiado pelos pais enquanto aluno, talvez por ser o único dos 11 irmãos a se dar bem nos estudos. Porém durante sua adolescência, se dedicou muito aos esportes, e gostava bastante embora o tamanho ( 1, 65 m) não contribuísse, e com tanto atletismo, os estudos iam a reboque. Após concluir o ensino médio, por influência de uma namorada, decidiu tentar vestibular, e contrário ao que todos imaginavam (todos acreditavam que ele tentaria Educação Física), resolveu tentar Letras por se incomodar, ao ler algumas obras e ouvir MPB, e não entender tudo o que estava sendo dito “ Graças ao Guimarães Rosa e ao Caetano Veloso, fui fazer letras”, justifica.
Na faculdade veio o encantamento pela literatura. Logo no início do curso Adriano começou a lecionar, e o seu pouco conhecimento, parecia imenso para seus alunos “Afinal percebi que todo conhecimento, quando doado, ofertado humanamente, é a melhor forma de contribuir para o outro. Desde o princípio me senti acolhido e admirado pelos
alunos. Estava afirmando em mim o gosto pelo magistério: profissão tão
desconsiderada e pouco privilegiada, infelizmente, em nossa cultura”. Adriano começou sua carreira como professor em redes públicas do município de Ribeirão das Neves e foi gradativamente entrando em pré - vestibulares. Passou por uma experiência como professor substituto no ensino superior na UFMG e na Faculdade de Pedro Leopoldo, mas o universo acadêmico, para ele, não agradavam muito “ Acho que a minha contribuição em pré - vestibulares é efetivamente maior que se eu estivesse em uma faculdade”, comenta.
Atualmente o professor e escritor têm se dedicado na elaboração de dois livros de poesia: um de temática erótica e outro sobre artes plásticas. Além disso está finalizando obras infato - juvenis que serão lançadas ainda este ano. Tais obras são: A era dos erês e As peripécias do menino experimental. Adriano se mostra empolgado nos projetos e diz: “É prazeroso ouvir as pessoas comentando que gostaram deste ou daquele poema, que acharam o livro leve e agradável. Fico satisfeito ao ter este retorno. Acho que todo escritor deseja ser lido, admirado e compreendido”.



A opinião dos amigos

“Pessoa que consegue disfarçar sua timidez com uma postura alegre e, algumas vezes irônica. Valoriza a amizade de forma recíproca. Às vezes discreto, outras explícito”, é o que diz o amigo Geraldo Modesto.
Dentre seu ciclo de amizades, Adriano é querido e profissionalmente é admirado. Seus alunos quando questionados sobre o professor de literatura soltam um carismático “Ele é ótimo”, comenta a aluna Giselle Marques. A coordenadora Pedagógica do Mais pré- vestibular, Shelley Rose, comenta “O convívio com o Adriano é ótimo. Ele é muito ético, divertido e está sempre de bom humor. Os alunos o acham o melhor professor de literatura que eles já tiveram, dizem que ele ensina de um jeito diferente, engraçado”.
O garoto de Santo Antônio do Grama é admirado por sua humildade e simpatia. Seu companheiro de trabalho desde 1995, Márcio Antônio, conta um fato engraçado “O Adriano não liga pra dinheiro. Ele sempre se esquece de receber, já passou três meses sem receber, precisou da tesoureira o perguntar se ele não iria receber mais”. O amigo ainda conta um segredo “Durante todas as tardes ele tem que dormir pelo menos uma hora e meia ou duas horas”. Adriano assume que o sono da tarde é uma mania e que ele tem isso como uma obrigação. Em uma sociedade que não dá o valor merecedor aos seus artistas, Adriano tem o objetivo contribuir para o crescimento, a felicidade e o olhar artístico dos que estão ao seu redor.
Repórteres: Caroline Fátima
Paula Tavares
Suzana Costa
Tamires Fátima

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